sábado, 20 de fevereiro de 2016

OFICINA COM O BARRO DO MULEMBÁ





Oferecer oficinas de escultura nas escolas onde atuo é sempre gratificante,principalmente quando percebo ter envolvido os alunos com a linguagem tridimensional tão pouco utilizada nas aulas regulares. Procuro iniciar com argila enfatizando-a como recurso natural da região. Conversando sobre este barro e sentindo-o entre os dedos, os alunos fazem um percurso teórico-prático-vivencial com o mesmo material utilizado pelas paneleiras de Goiabeira- o barro do Vale do Mulembá. Neste local os nativos extraem o barro que em bolotas é levado para Goiabeiras. Nos quintais do bairro, as bolotas de barro são pisadas depois de terem sido dela retirados os gravetos,pedrinhas e outras sujeiras. Alguns alunos passam as informações acima de uma maneira muito familiar e por este
 motivo envolvem-se com o material ampliando o conteúdo do pensamento e o repertório visual. Tendo em vista que a prática artesanal de fabricação das panelas de barro é uma atividade econômica e culturalmente enraizada na nossa localidade , alunos vivenciam este barro utilizando seu próprio contexto regional e seus mitos através de uma linguagem artística

Com Tato- uma experiência com a tridimensão



Um dia, percebi que tinha descoberto algo muito importante em arte, talvez o mais importante. Foi um dia de revelação. Foi como passar da escuridão para luz. Era o segredo do volume. O segredo da terceira dimensão clareou. A realidade teve peso, e tudo tinha densidade e profundidade"

Bror Hjorth
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MONOGRAFIA - Relato

Uma pesquisa sobre a tridimensão que realizei com alunos de uma escola da rede municipal de Vitória gerou a monografia Com Tato - uma experiência com a tridimensão (imagem da capa acima ). Esta monografia foi apresentada na conclusão do curso de especialização "Abordagens Contemporâneas em Arte-Educação" realizado na Universidade Federal do Espírito Santo em 2000. A pesquisa teve como objetivo lançar uma semente inicial para atrair professores de arte para utilização das FORMAS TRIDIMENSIONAIS tão pouco ou quase nunca exploradas dentro da sala de aula .
Rudolf Arnheim(1986) refere-se a tridimensão como a liberdade completa, a mobilidade total de uma andorinha. Deixemos pois que nossos alunos tenham mais livres suas mãos e idéias para que surja no encadeamento das experiências o endendimento da arte contemporânea e a construção do pensamento tridimensional .

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Projeto "Falando de Flores"

Como atrair a atenção para a disciplina Arte de alunos que clamam por recuperar o tempo perdido nos estudos e possuem como meta prioritária dentro da escola a aquisição da leitura, escrita e a habilidade para fazer contas? Como mostrar a estes alunos na fase adulta que arte não é coisa para criança como eles costumavam dizer após qualquer atividade proposta? Confesso que inicialmente fiquei apavorada, tudo no ensino noturno era novo para mim e logo percebi o desafio que enfrentaria. Passei a buscar formas de atrair o interesse destes alunos do 1º segmento para a disciplina Arte. Os alunos que possuíam algum interesse pela disciplina, equivocadamente relatavam que gostariam somente de aprender artesanato. Não estava em meus planos direcionar as aulas que daria com atividades que não os levasse a algum tipo de reflexão. Entendo o artesanato como algo prático que observando se faz, pela vivencia ou pela imitação,sem qualquer reflexão e eu não pretendia isto para meus alunos da EJA- 1º segmento . Este relato ocorreu em 2008 na escola municipal de ensino fundamental “Álvaro de Castro Matos” que se localiza em um dos bairros nobres da cidade de Vitória-ES cuja clientela consta na sua maioria de trabalhadores do próprio bairro ou residentes em bairros vizinhos. A faixa etária dos alunos é de 16 a 80 anos. Confesso que inicialmente achei que não conseguiria encontrar saída para atrair alunos adultos e com pensamentos tão equivocados sobre disciplina Arte. Percebi logo a grande necessidade que teríamos de dialogar . Através da atenção que dava a cada um fui conhecendo a bagagem que traziam e assim, numa das aulas, conversando sobre jardinagem consegui esquecer os espinhos e vislumbrar o projeto Falando de Flores cujo objetivo inicial foi levar os alunos a valorizar a expressão artística e vivenciar o processo criativo. Durante aproximadamente tres meses, de forma artesanal ,literária ou artística as flores tornaram-se o foco. Uma conquista que merece destaque dentro deste projeto foi a visibilidade dada à Economia Solidária. Uma palestrante com larga experiência no assunto foi convidada pela equipe pedagógica da escola para relatar a experiência dos moradores do Morro São Benedito que transformaram seu fazer artesanal em atividade lucrativa após a comunidade unir-se através de cooperativas de trabalho. A palestrante relatou também o fortalecimento da economia do bairro com a circulação de uma moeda própria chamada moeda Bem. Outro aspecto também a ser destacado foi a discussão surgida após os alunos assistirem o documentário Casa da Flor(DVDteca Arte na escola). Perceberam o imaginário e a realização do operário-artista-arquiteto Gabriel dos Santos que em seu processo criativo constrói uma casa com ajuntamento de coisas imprestáveis, restos de construções,lâmpadas queimadas e pedaços de louças ou vidros quebrados conectando imaginação,devaneio e realidade. Perceberam neste vídeo que além da criatividade do artista havia nele a idéia de responsabilidade e proteção ao meio ambiente. A partir des vídeo os alunos começaram a refletir sobre a utilização de materiais descartáveis e aos poucos partiram para uma produção variada formando grupos com interesses específicos . Com imaginação e criatividade desenharam muitas flores que de acordo com determinado grupo tornaram-se reais ao transformarem seus projetos em flores de garrafa pet. Nesta etapa procurei estimular a a percepção inicial dos alunos com relação a bi e a tridimensionalidade. Outro grupo vivenciou conceitos de volume e espaço utilizando flores recortadas de papel de presente ou com os próprios desenhos. A partir de recortes,sobreposições e distribuição das flores selecionadas,criaram cartões com composições variadas.

Acima , registro fotográfico realizado no dia da projeção do vídeo documentário Casa da Flor ocorrido na sala de informática.




Ficava atenta a cada elemento que surgia que me permitisse buscar novas indagações. O projeto foi também abraçado pela professora regente da turma que passou a desenvolver atividades de leitura , escrita e pesquisas na internet ou outras fontes sobre :
-Locais que se cultivam flores no Espírito Santo
-Registro das flores existentes no estado do ES
-Utilização das flores como remédio, alimento, perfume
-Pessoas ligadas ao cultivo de flores(condição de trabalho,salário,...)
-Estímulo para relatos pessoais dos alunos com vivências em jardinagem
Avaliação -


O projeto relatado foi finalizado no final de novembro de 2008 deixando sementes para trabalhos futuros. Os caminhos a percorrer são muitos, caminhos estes onde ocorrerão acertos, desacertos e dúvidas que hoje sei que farão parte do meu percurso como arte- educadora da EJA. Em muitos momentos tem sido necessário deixar de lado embasamentos teóricos e metodológicos na tentativa de atender um grupo cujos interesses já consigo administrar melhor. Sinto que aos poucos os alunos percebem novas maneiras de pensar e agir criativamente agregando valor ao seu fazer artesanal ou artístico. Hoje consigo conversar e planejar futuras atividades com outros professores e com os alunos sem receio de não ser entendida. Sinto crescer gradativamente a valorização da disciplina Arte dentro da escola .

sábado, 20 de setembro de 2008

"Múltiplos Olhares"

Professores: Tânia Monnerat ( Artes )e Marcos Garcia( História)
EJA- Inicial 2º Segmento

OBJETIVOS

- Pesquisar ,ler e registrar trajetórias artísticas a partir de consultas periódicas à biblioteca da escola ; -Organizar informações e registra-las em desenho e texto;
-Explorar ambientes variados que ofereçam oportunidade de socialização, de pesquisa,de aprimoramento e de técnicas ;
-Observar elementos materiais,culturais e subjetivos nas obras dos artistas pesquisados; -Socializar o material pesquisado

METODOLOGIA -Pesquisas -Seminários -Aulas Presenciais -visitas a núcleos de pesquisa -Atividades significativas

O projeto Múlltiplos Olhares  tornou-se mais significativo  em abril de 2008 quando eu e o professor Marcos levamos os alunos na exposição Poéticas da Fragmentalidade do artista Jeveaux( Paulo César Henrique Jeveax) na galeria de arte “EU”-Espaço Universitário da UFES. Nesta mostra a maior parte dos alunos vivenciou a experiência nova de conhecer uma galeria de arte e ver de perto quadros e objetos artísticos. Observaram os elementos materiais ,culturais e subjetivos na obra do artista e comentaram a respeito das obras visualizadas . Perceberam que Jeveaux consegue trafegar entre o desenho, a pintura,mosaico e modelagem cosendo memórias poeticamente. Compararam as obras deste artista com as obras dos artistas que elegeram para pesquisar em nossas visitas à biblioteca da escola .
Visita a Galeria Espaço Universitário-UFES

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Oficina de Escultura com Materiais Reciclados




(RE)CRIANDO- ESCULTURAS ECOLÓGICAS- 2ª ETAPA DA OFICINA DE ESCULTURAS "Experiências com materiais aparentemente sem utilidade,produz uma revolução na nossa relação com o meio ambiente, com o mundo, com os outros e com nós mesmos." Nesta oficina,coisas que pareciam não ter sentido ou utilidade ganharam uma existência. Prolongada? Curta? O que importa? O importante é a experiência dos participantes serem desfiados a experimentar uma relação com o que os cercam. Somos parte deste lixo e ele é parte de nós. Este lixo possibilita criar tridimensionalmente ao mesmo tempo que instaura um sentimento de responsabilidade pelo meio ambiente.

Zenilda-aluna do 2ºsegmento-

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

PROJETO LIBERDADE


O trabalho abaixo foi desenvolvido por uma aluna que utilizou o recurso da informática na representação dos sonhos e sentimentos pessoais . Todos os alunos realizaram previamente um rascunho utilizando papel e grafite com a idéia inicial e transcreveram postariormente seus desenhos para um programa apropriado no computador O projeto Liberdade foi desenvolvido na EMEF "VSP", escola da rede municipal de ensino de Vitória-ES, onde atuei como arte-educadora em 2007. Participaram alunos das turmas Conclusivo I e II - ensino noturno regular. A idade destes alunos variava de 16 a 55 anos e possuiam profissões variadas: pedreiro,donas de casa,cozinheiras de restaurante, vigias,empregadas domésticas,caixas de supermercado, vendedores de jornal,dentre outras. A maioria acordava muito cedo chegando já cansados na escola. Percebi logo nas primeiras aulas a necessidade de motiva-los com constantes desafios e temas ligados ao interesse da maioria. Frequentavam também a escola, alguns alunos com "liberdade assistida" - até então eu não conhecia este programa socio-educativo destinado a jovens considerados infratores. Esta realidade da escola foi o gancho inicial para o projeto que começava a surgir. Os alunos foram estimulados a falar sobre liberdade a partir do ponto de vista de cada um . Qual o sentido verdadeiro da palavra liberdade ? Qual a sensação de uma liberdade de certa forma vigiada? No transcorrer do projeto,conheci a história de um aluno paraplégico que reclamava pelo fato de ter perdido toda sua liberdade junto com seus movimentos após uma doença que o acometeu alguns anos atrás. Este aluno dizia ter muita vontade de correr ,dançar e principalmente de nadar, o que fazia antes de sentir-se preso a uma cadeira de rodas. Com esta conversa percebi que o tema começou a ganhar força e assim dei um passo a mais solicitando aos alunos que criassem a história da própria existência através de desenhos ou textos. Passaram para o o computador seus rascunhos ou pesquisas poéticas abordando o tema em questão. Utilizaram linhas e cores com os recursos da informática e enfrentaran grandes desafios ao transcrever suas produções feitas manualmente . Montaram com ajuda da professora Débora de informática,uma apresentação de slides com os próprios trabalhos. O resultado de todo este envolvimento foi relatado pelos participantes que mostraram também através de um telão na Tribuna Livre , desenhos e frases pesquisadas e criadas . Neste evento anual, alunos do ensino noturno da rede pública municipal de Vitória, tem total liberdade para expor publicamente o resultado de suas pesquisas realizadas no transcorrer do período letivo,relatando suas dificuldades e conquistas. O aluno paraplégico citado anteriormente declamou neste evento uma poesia criada por ele falando de liberdade. Este projeto contou com a colaboração da professora Débora de informática.